Hoje, após ler o artigo de revisão intitulado: Healing potential of the anterior cruciate ligament in terms of fiber continuity after a complete rupture: A systematic review, do autor Alexios Pitsillides (2021), que disserta sobre o potencial de cicatrização do ligamento cruzado anterior (LCA) após a ruptura, me vi no passado quando li alguns artigos que me fizeram repensar a minha conduta e as orientações que dou ao aos meus pacientes e alunos:
Me vi em 2007 quando o artigo: Arthroscopic or conservative treatment of degenerative medial meniscal tears: a prospective randomised trial, da autora Sylvia Herrline, concluiu que a cirurgia em lesão degenerativa de menisco não era mais vantajosa do que o tratamento conservador. Naquele momento a cirurgia meniscal era o procedimento cirúrgico ortopédico mais realizado no mundo e, após essa e outras publicações que a seguiram, fizeram esse procedimento diminuir drasticamente;
Me vi também em 2014 ao ler o artigo The Twin Spine Study: Contributions to a changing view of disc degeneration, da autoraMichele C. Battie, e esse artigo me mostrou que os desgastes de coluna vertebral não tinham muita relação com cargas, má postura ou algo do tipo. Estavam muito mais relacionados a uma herança genética e por fatores que ainda não conhecemos, do que tudo o que eu pensava antes;
Me vi em algum ano (não me lembro) quando li o estudo Magnetic ressonance imaging of the lumbar spine in people without back pain, de Maureen C Jensen, de 1994, (é isso mesmo 1994!!! E tem gente que ainda não sabe sobre isso!) em que foram analisados por Ressonância Magnética pessoas assintomáticas e foi encontrado que 52% das pessoas ASSINTOMÁTICAS apresentam abaulamento discal e 27% hérnia discal;
Me vi em 2014 quando li a revisão sistemática: The probability of spontaneous regression of lumbar herniated disc: a systematic review, de Chun-Chieh Chiu, e em 2017 a revisão sistemática com metanálise: Incidence of Spontaneous Resorption of Lumbar Disc Herniation: A Meta-Analysis , de Ming Zhong, que demonstraram que as hérnias discais lombares tendem a diminuir com o tempo, inclusive quanto maior a hérnia maior a capacidade de diminuir de tamanho;
Me vi também em 2016 quando li o estudo: Running exercise strengthens the intervertebral disc do autor Daniel L. Belavý, que demonstra, em um estudo transversal, que indivíduos que praticam corrida tem a tendência a ter discos intervertebrais maiores e de melhor qualidade do que aqueles que não praticam, existindo ainda tendência a uma relação dose-resposta, ou seja, quanto mais correr por semana, melhor era o disco intervertebral. Esse estudo, que apesar de não ter uma relação causa / efeito, nos alicerça bastante quando orientamos nossos pacientes e nos ajuda a entender um pouco sobre a complexidade dos nossos sistemas corporais.
Esses estudos, e muitos outros aqui não citados, contribuíram para eu ser o profissional que sou hoje e mudaram completamente a minha maneira de pensar, minhas condutas e as orientações que faço aos meus pacientes e alunos.
É incrível ver como ciência feita com qualidade nos afeta diretamente.
Parabéns a todos que pensam diferente. Obrigado por isso!
Só vocês podem mudar as tradições e quebrar os paradigmas.
Só vocês podem nos fazer evoluir.
Att,
Frederico de Oliveira Meirelles.